Era para ser só mais uma viagem entediante, mas, quem diria, não passava de uma fila.Isso mesmo, daquelas de filmes, em que trocam-se olhares e o mundo para enquanto o tempo passa.Bastou olhar teus olhos nela para que eu me convencesse de que não seria mais uma viagem ou apenas mais uma fila, e os seus olhos sorriam dizendo o mesmo, apenas os olhos, nada de palavras, deixaríamos essa parte para depois.Embarcamos, distantes um do outro, mas que diferença faria?Chegaras acompanhado à outra, que apenas lhe trouxe, mas, de qualquer forma acompanhara-o.Enquanto mergulhava em Shakespeare ouvias Russo, seus cabelos negros e relativamente alongados dançavam com o vento.Óculos de sol, um ligeiro alargador, blusa de couro.Perfeito aos meus olhos assim como sua voz aos meus ouvidos.Desisti de Shakespeare para lhe fitar de soslaio, nada dizia, nenhum músculo movia, apenas assistia.Desembarcamos.Nos perdemos.A partir de então a viagem passou mesmo de interessante a entediante, mulheres fúteis e consumistas, cansadas e cansativas.Mas quem diria, esse era o dia das filas e nos reencontramos.Desta vez com coragem.Com palavras.E a conversa rendeu.Rendeu sorrisos, gargalhadas, descanso, provocações, mais trocas de olhares, conhecimento.Inteiramente apaixonante, nada confirmado,mas a meu ver, platonicamente.Eu me apaixonava sozinha.Aliás sempre fiz isso muito bem.Enfim, a fila era comicamente de um parque, a fila mais temida, e o sol se punha enquanto eu descobria que tínhamos gostos em comum e que você não era o que eu procurava e sim simplesmente o que eu encontrei graças ao Acaso e que eu queria um pouco para mim, que fosses um pouco meu, que continuasses a me gargalhar milagrosamente como ninguém nunca fizera antes e que gargalhasses para mim alegrando-me por ver-te bem.Coragem tínhamos em comum, fomos juntos no último assento, deliciamos-nos juntos.
Caída então a noite precisávamos repor energias.Uma pausa para o café, outra coisa em comum: a paixão pelo café.Mas eu não me concentrava com o seu sotaque grave me tirando completamente atenção e assim como você eu derramava café por todas as partes.Éramos mesmo atrapalhados.Éramos, sinceramente, feitos um para o outro.Então eu me lembrava de quem o acompanhava no início do dia, já tinhas alguém.Entretanto, entristecer-me eu não podia ao seu lado, à sua voz, à seu calor.Nada, exatamente nada acontecera entre nós, apenas identificação.
E assim passou-se uma semana em que continuávamos nos conhecendo.Meu histórico não era de se agradar mas eu não podia deixar de tentar.Como de meu agrado avisei-te pela língua inglesa, por SMS, um pouco do que eu sentia.Resposta ainda não tive apesar de seus olhos continuarem sorrindo à mim nessa história que acaba de começar.Coragem!

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