domingo, 13 de novembro de 2011

Era para ser só mais uma viagem entediante, mas, quem diria, não passava de uma fila.Isso mesmo, daquelas de filmes, em que trocam-se olhares e o mundo para enquanto o tempo passa.Bastou olhar teus olhos nela para que eu me convencesse de que não seria mais uma viagem ou apenas mais uma fila, e os seus olhos sorriam dizendo o mesmo, apenas os olhos, nada de palavras, deixaríamos essa parte para depois.Embarcamos, distantes um do outro, mas que diferença faria?Chegaras acompanhado à outra, que apenas lhe trouxe, mas, de qualquer forma acompanhara-o.Enquanto mergulhava em Shakespeare ouvias Russo, seus cabelos negros e relativamente alongados dançavam com o vento.Óculos de sol, um ligeiro alargador, blusa de couro.Perfeito aos meus olhos assim como sua voz aos meus ouvidos.Desisti de Shakespeare para lhe fitar de soslaio, nada dizia, nenhum músculo movia, apenas assistia.Desembarcamos.Nos perdemos.A partir de então a viagem passou mesmo de interessante a entediante, mulheres fúteis e consumistas, cansadas e cansativas.Mas quem diria, esse era o dia das filas e nos reencontramos.Desta vez com coragem.Com palavras.E a conversa rendeu.Rendeu sorrisos, gargalhadas, descanso, provocações, mais trocas de olhares, conhecimento.Inteiramente apaixonante, nada confirmado,mas a meu ver, platonicamente.Eu me apaixonava sozinha.Aliás sempre fiz isso muito bem.Enfim, a fila era comicamente de um parque, a fila mais temida, e o sol se punha enquanto eu descobria que tínhamos gostos em comum e que você não era o que eu procurava e sim simplesmente o que eu encontrei graças ao Acaso e que eu queria um pouco para mim, que fosses um pouco meu, que continuasses a me gargalhar milagrosamente como ninguém nunca fizera antes e que gargalhasses para mim alegrando-me por ver-te bem.Coragem tínhamos em comum, fomos juntos no último assento, deliciamos-nos juntos.
Caída então a noite precisávamos repor energias.Uma pausa para o café, outra coisa em comum: a paixão pelo café.Mas eu não me concentrava com o seu sotaque grave me tirando completamente atenção e assim como você eu derramava café por todas as partes.Éramos mesmo atrapalhados.Éramos, sinceramente, feitos um para o outro.Então eu me lembrava de quem o acompanhava no início do dia, já tinhas alguém.Entretanto, entristecer-me eu não podia ao seu lado, à sua voz, à seu calor.Nada, exatamente nada acontecera entre nós, apenas identificação.
E assim passou-se  uma semana em que continuávamos nos conhecendo.Meu histórico não era de se agradar mas eu não podia deixar de tentar.Como de meu agrado avisei-te pela língua inglesa, por SMS, um pouco do que eu sentia.Resposta ainda não tive apesar de seus olhos continuarem sorrindo à mim nessa história que acaba de começar.Coragem! 
Sinto falta de sentir falta agora que não sinto nada.
Sinto falta de algo que perdi em algum lugar ou em alguém
Perdi alguém
Perdi o sentido.
Não é falta de fazer falta, nem falta de alguém
É só falta de sentido em mim.  
Falta eu em mim
Tempo separou
Se parou
Cê parou
Nos separou
Parou
Par ou só
Parou só
Só eu
Sozinha
Tempo se parou sozinho
Nos separou sozinho
Sempre fomos só nós três apesar de vivermos insistindo de que seriamos nós e mais alguns.Nos acostumamos muitos com nossos escritos e até achávamos que vivíamos neles, íamos a outros cantos com eles, mal sabíamos voltar e a cada passeio um pouco da gente ficava por lá, voltávamos mais vazios, vazios de tudo.Sentíamos todos osalguns que acreditávamos ter mas que eram apenas papel e letra, e às vezes só papel, sem letra, sem nada, cru.Escritos.
Subitamente voltamos pouco menos vazios e conseguimos ver que as pessoas fora do papel eram falsas, tinham sorrisos falsos e abraços fracos, eram sempre sem letra ou escreviam para que não lêssemos.Descobrimos que os 15 anos que vivemos com aqueles alguns, serviram apenas para que aprendêssemos que todo mundo mente, até nós para nós mesmos, que todo mundo tem papel, que todo mundo é papel e às vezes somos amassados e jogados fora como rascunhos.Levamos 15 anos para descobrir que seremos apenas nós três: papel, caneta e eu.Vazia ou não, sentindo ou não, sorrindo ou sofrendo.Eu e escritos.   
No ápice da montanha, deliciando-se com o vento, vidrados na paisagem.
Ele : —Qual seu sonho?
Ela sem entender : —Como?
Ele: —Estás aí sonhando acordada, posso ver na forma como força os olhos!Não preferes sonhar dormindo garota?
Ela: —Acordada posso sonhar o que eu quiser, dormindo não tenho esse controle.
Ele: —Acordado é mais perigoso, machuca mais.Dormindo passa.
Ela: —Gosto então é de coisas eternas.
Ele: —Tudo se finda, o eterno sempre foge, se vai junto desse vento.Sonhar acordado é difícil, as pessoas atrapalham, acabam estragando tudo.
Ela: —Não tinha pensado por esse lado.Mas gosto tanto de sonhos que dormiria a vida toda.Meus sonhos de acordada são perfeitos como quero, me sinto vivendo-os.Dormindo é ruim, me mexo na cama a fim de torná-los mais concretos e acabo acordando.
Ele: —Mas não dói, não marca e uma hora você o esquece.Acordado a gente não esquece da dor.
Ela: —Onde você quer chegar?
Ele: —Não sei, talvez não sonhar.Só viver e ver onde vai dar.Quer tentar?
Ela: —Mas vai acabar?
Ele: —Infelizmente é provável que sim, mas a gente pode tentar.Você quer?
Ela: —Você não quer tentar sonhar comigo e depender só de nós dois a  nossa eternidade?
Ele: —Tenho tanto medo do que é concreto.Tanto medo de dor.
Ela: —Mas eu te cuido e te curo se machucar. 
Mas eis que se descobriu.Na verdade eu.Eu descobri.Eis que eu descobri o  meu real problema, ou será que estou apenas querendo justificar tanta angústia que nomearam ‘bobagem’?Não…Não acredito que esse seja o significado de amor.Amor não é bobagem mas talvez seja o meu problema.Porque olha: eu tento, insisto, me reviro, afasto, corro, fujo, e acabo voltando.Eu fugia das coisas que me prendiam a você e que me levavam até você mas já não tenho para onde correr agora que todas as coisas me levam até.Eu juro que tento, mas eu sou burra o suficiente para voltar e alimentar o que já está cheio até a tampa.Você já está cheio de mim, cheio de vazio de mim.Não me aguentas mais e chegamos a conclusão de que o problema sou eu mas o problema que estávamos procurando no início não era eu e sim meu.Mas me perdi falando de mim e me voltei a você.
Enfim, o problema é que eu não consigo transbordar você de mim e te jogar fora, acho maldade, apesar de teres feito o mesmo comigo.Acho maldade esquecer tudo aquilo que era ‘nós’ para seguir em frente, acho pecado acabar o amor.A verdade é que eu não sei mais o que fazer para conseguir seguir em frente sem fazer maldade, não tem como.Aliás, como conseguiste? O meu eu-problema era assim tão ruim?Tão chato?Tão pouco ou muito? Tão…inamável?
Coloquemos o tempo nessa história, ele vai me cuidar, vai te transbordar de mim  você vai ver.E eu vou amar de novo um dia.Ah se vou.
Mas eu estou tão cansada, ‘stou tão doída por dentro—Uma dúvida: vocês estendem “doída por dentro” como literatura só?Meus queridos(as), sinto lhes informar mas a dor é física.Já sentiram?Espero que não, é tão ruim— que me parece dormir para sempre o meu único remédio.Mas dormir sem sonho para não correr o risco de encontrar você por lá para me doer de novo.
Veja onde chegamos: como pode eu não conseguir jogar fora algo que me machuca tanto?Meu caro, isso eu não sei lhe responder.Aliás eu sei de quê?
Como o Sol começando um dia irradia-se raiva aqui dentro de mim.Vem chegando como se já estivesse partindo e subitamente infecta-me por todos os cantos.Até não quero que ela vá embora, apenas que me leve com ela, só nós, desde que seja só nós.Raiva de fome, de sede, de amor, de gente, de liberdade.Na verdade fome de liberdade e sede de amor.Mandou a mim um cartão postal dizendo que um dia me buscaria e me levaria com ela mas como todo líquido-amor pingou pelos meus olhos escorreu pelos meus dedos me deixou aqui cheia de gente.Amanhã ela volta, planta em mim tudo de novo, rega e vai embora.Ilusória como todas as outras promessas dos caras-pintadas-enumerados.
Então eu acho que não sei o nome disso que você disse amor de mim por você não ser Que terminou mas não passa Despediu mas não foi embora Levou embora esperança mas ainda alimenta E me atormenta De um jeito estranho Nem ruim nem bom Só desgastante Agora se faz só de lembranças inapagáveis e imensamente desejáveis Que me amadureceram e por sinal já me derrubaram Se não é isso que chamam de amor, nem sei!
Calma pequena,vai passar.Ergue o queixo, o ombro e os olhos, faz sua história, não deixa ninguém escrever por você, não entrega o seu sorriso a ninguém, te guarda pra si, aprende a ser sozinha pois no final sempre será você por você mesma, mas não entristece com isso e pensa que ninguém cuida de ti melhor que você mesma.Ouve teus próprios conselhos.Aprende a ser sozinha,tudo nessa vida tem um fim!
Sorria, um sorriso pode ser pesado e acabar se fixando 
pode ser leve e levado embora
pode te convencer de que você está sorrindo de verdade
mas sorria para si, sorria pra dentro
por dentro!
—A partir de agora não falo mais nada já que ninguém me escuta.
—E vais desistir assim?Desistir é para os fracos.Nade contra a corrente!
—E você por acaso sabe o quando já me afoguei nessa corrente?Sabe o quão alto eu gritei?Fui forte por muito tempo e se até ferro enferruja por que logo eu não me cansaria? 

Sentou-se na penteadeira e pôs-se a alisar os cabelos de frente ao espelho.
—Eu queria ser boa em alguma coisa, não sei fazer nada, meus escritos são tão horríveis que ninguém os lê, nem ao menos os notam, não me dou bem com nenhum esporte, minhas notas não são as melhores…
—Mas você é ótima em perder as pessoas! 
Sem doer
sem perder
nem temer
Sem fugir
sem sorrir
nem fingir
Sem tremor
sem pudor
nem odor
Sem cansar
sem chorar
Nem amar, só olhar
Despiu-se do pijama, vestiu bolero e saia alta, enquanto se “arrumava” ouvia e dançava rock, alargou as orelhas, descabelou-se, apenas mais um batom de vívido tom e saiu.
Deixou em casa todo o medo da rejeição, desligou tudo que sentia e foi finalmente viver, cuidar do futuro.Agora sim poderia, antes não.Estava tudo bagunçado demais, com sentimento demais e se queres profissionalismo e avanço isso quer dizer desligar sentimentos e foi isso que ela fez.Bebia e fumava: atitudes consideradas tão imaturas para alguém agora tão responsável com o seu futuro, mas era somente com o seu, sozinha, e que os outros explodissem, não faria a menor diferença.
Já não se importava mais com os olhares de soslaio, nem com as risadinhas no fundo ou o que quer que fosse dito relacionado a ela.Já não se interessava nem mais pelos elogios, sentia falsidade em cada um deles.Importava-se apenas a lembrar de esquecer a única pessoa a qual tinha lhe feito sentir bem, segura e sinceramente feliz mas que a quebrou em inúmeros pedaços.