Seu cabelo castanho-cacheado estava preso num coque mal feito e enquanto ela apanhava um cobertor, bebida e dois copos ele abandonara sua tarefa para admirá-la pela enorme janela de vidro da casa do lago.Estava de pé ao lado do pequeno barco o qual os levaria para longe de tanta gente, tanta ganância.Sua calça dobrada até os joelhos insistia em tocar a água e ela temia que seus pés gelados o fizessem algum mal e, quando já caminhando até ele, voltou casa adentro e lhe trouxe calças secas e um par de meias.
Aproximava-se das seis da tarde mas não tinham pressa alguma em voltar para casa, não tinham pressa de gente.Mantinham-se em silêncio pois era o que ambos apreciavam, nada de músicas, nada de conversas nem interrupções, se comunicavam muito bem apenas por olhares.Ela se sentou então no barco ao lado da cesta de frutas, tirou do bolso um maço de cigarro, ele lhe arremessou o isqueiro e ligou o motor, o único barulho ali presente.Deitou-se no colo dela e acendeu um cigarro assim como ela havia feito.Eram tão perfeitos um para o outro que até o jeito como faziam isso era parecido: alisar, acender, baforar, fechar os olhos, respirar fundo, olharem-se.E assim passaram-se horas de carinhos, cigarros e alguns drinques. Nada de beijos e conversas, apenas a presença um do outro lhes bastava.Às vezes se reviravam procurando um pouco mais de conforto e era só isso.
Então ele desligou o motor, e ela se deitou ao lado dele, seu cabelo já estava solto e ele o afagava, suas bochechas estavam ligeiramente encostadas e ela podia sentir seu calor a esquentando, suas mãos estavam entrelaçadas e seus olhos vidrados no céu, eles estavam admirando a mesma coisa:a Lua, eles estavam pensando nas mesmas coisas: neles, alí, juntos.Acederam mais alguns cigarros e então ela resolveu falar:
_ “Posso quebrar um pouco desse silêncio?”
Ele acenou com a cabeça positivamente e prosseguiu:
_”Há algum tempo ansiei por um momento como esse, em que eu não estivesse confuso, calmo comigo mesmo, dividindo o meu mundo com alguém e nunca pude imaginar que esse alguém fosse você”
Ela apenas sorriu e lhe beijou a testa, até então eram só amigos muito íntimos que gostavam das mesmas coisas, que tinham vontades em comum.
_”Há algum tempo eu quis fazer algo por você, quis te fazer assim calmo, assim sorrindo e fico feliz pelo resultado”
Eles se sentaram e se olharam, suas mãos continuavam entrelaçadas, ele a beijou os lábios, ela retribuiu.Ofegantes e surpresos voltaram a não falar nada, apenas acenderam um cigarro e o dividiram.Sabiam certamente o que aquilo significava.
_”Então você gostaria de ficar sozinha comigo assim pra sempre?”
_”Eu ficaria sozinha para sempre com você mesmo sem você aqui!”

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