domingo, 16 de fevereiro de 2014
Na porta, o espelho circular do qual saíam triângulos dourados de tamanhos diferentes que imitavam o sol, mostrava aos olhos de quem chegava parte da história que escrevia aquela casa. Era o ritual previsto: observar, ajeitar, e começar a reconhecer trejeitos de quem ali morava.
Ao lado esquerdo um móvel retangular de madeira que serviria de bar. É onde se dá o primeiro conto. Inúmeras pessoas poderiam ser relacionadas a um bar, mas aquele já era carregado de histórias antes mesmo que fosse utilizado. Deitada na rede em frente à janela do lado direito do mesmo cômodo, contos específicos seriam cantados à quem faziam referência. Àquele bar, amores, amizades e lamúrias seriam impregnados. Naquela rede que se encheria de furinhos de cigarro e farelos de paçoca, memórias em preto e branco esboçariam sorrisos e virariam escritos. Na parede, saltando aos olhos de quem se aconchegasse na rede, poemas, rabiscos, fotos e nostalgias arrancariam no mínimo algum sorriso e qualquer peso do peito.
No tapete que se alinhava com a referida parede, debates distrativos seriam desenrolados vez que televisão não teria espaço para promover distrações absurdamente desnecessárias e desinteressantes.
Seria o quarto o lugar menos habitado da casa porque lá habitaria de forma densa a saudade que dói, não a saudade que alivia. Aquela cama seria deixada de lado por várias noites devido ao medo do choro e só seria utilizada quando fosse para ser dividida com um pouco de amor libertário.
Os buracos que a solidão fazia feito cupim naquela casa, seriam remendados com memórias e novas almas enquanto os sedimentos seriam varridos para debaixo da cama e fugiriam feito poeira quando esta estivesse sendo papel e caneta para mais histórias.
domingo, 13 de novembro de 2011
Era para ser só mais uma viagem entediante, mas, quem diria, não passava de uma fila.Isso mesmo, daquelas de filmes, em que trocam-se olhares e o mundo para enquanto o tempo passa.Bastou olhar teus olhos nela para que eu me convencesse de que não seria mais uma viagem ou apenas mais uma fila, e os seus olhos sorriam dizendo o mesmo, apenas os olhos, nada de palavras, deixaríamos essa parte para depois.Embarcamos, distantes um do outro, mas que diferença faria?Chegaras acompanhado à outra, que apenas lhe trouxe, mas, de qualquer forma acompanhara-o.Enquanto mergulhava em Shakespeare ouvias Russo, seus cabelos negros e relativamente alongados dançavam com o vento.Óculos de sol, um ligeiro alargador, blusa de couro.Perfeito aos meus olhos assim como sua voz aos meus ouvidos.Desisti de Shakespeare para lhe fitar de soslaio, nada dizia, nenhum músculo movia, apenas assistia.Desembarcamos.Nos perdemos.A partir de então a viagem passou mesmo de interessante a entediante, mulheres fúteis e consumistas, cansadas e cansativas.Mas quem diria, esse era o dia das filas e nos reencontramos.Desta vez com coragem.Com palavras.E a conversa rendeu.Rendeu sorrisos, gargalhadas, descanso, provocações, mais trocas de olhares, conhecimento.Inteiramente apaixonante, nada confirmado,mas a meu ver, platonicamente.Eu me apaixonava sozinha.Aliás sempre fiz isso muito bem.Enfim, a fila era comicamente de um parque, a fila mais temida, e o sol se punha enquanto eu descobria que tínhamos gostos em comum e que você não era o que eu procurava e sim simplesmente o que eu encontrei graças ao Acaso e que eu queria um pouco para mim, que fosses um pouco meu, que continuasses a me gargalhar milagrosamente como ninguém nunca fizera antes e que gargalhasses para mim alegrando-me por ver-te bem.Coragem tínhamos em comum, fomos juntos no último assento, deliciamos-nos juntos.
Caída então a noite precisávamos repor energias.Uma pausa para o café, outra coisa em comum: a paixão pelo café.Mas eu não me concentrava com o seu sotaque grave me tirando completamente atenção e assim como você eu derramava café por todas as partes.Éramos mesmo atrapalhados.Éramos, sinceramente, feitos um para o outro.Então eu me lembrava de quem o acompanhava no início do dia, já tinhas alguém.Entretanto, entristecer-me eu não podia ao seu lado, à sua voz, à seu calor.Nada, exatamente nada acontecera entre nós, apenas identificação.
E assim passou-se uma semana em que continuávamos nos conhecendo.Meu histórico não era de se agradar mas eu não podia deixar de tentar.Como de meu agrado avisei-te pela língua inglesa, por SMS, um pouco do que eu sentia.Resposta ainda não tive apesar de seus olhos continuarem sorrindo à mim nessa história que acaba de começar.Coragem!
Sempre fomos só nós três apesar de vivermos insistindo de que seriamos nós e mais ‘alguns’.Nos acostumamos muitos com nossos escritos e até achávamos que vivíamos neles, íamos a outros cantos com eles, mal sabíamos voltar e a cada passeio um pouco da gente ficava por lá, voltávamos mais vazios, vazios de tudo.Sentíamos todos os‘alguns’ que acreditávamos ter mas que eram apenas papel e letra, e às vezes só papel, sem letra, sem nada, cru.Escritos.
Subitamente voltamos pouco menos vazios e conseguimos ver que as pessoas fora do papel eram falsas, tinham sorrisos falsos e abraços fracos, eram sempre sem letra ou escreviam para que não lêssemos.Descobrimos que os 15 anos que vivemos com aqueles ‘alguns’, serviram apenas para que aprendêssemos que todo mundo mente, até nós para nós mesmos, que todo mundo tem papel, que todo mundo é papel e às vezes somos amassados e jogados fora como rascunhos.Levamos 15 anos para descobrir que seremos apenas nós três: papel, caneta e eu.Vazia ou não, sentindo ou não, sorrindo ou sofrendo.Eu e escritos.
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